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29/08/2015 13:12
Conhecendo o cérebro para melhorar o aprendizado
 
Por mais 
de vinte anos trabalhei alfabetizando crianças. Sempre tive muito 
cuidado para não me acomodar em um único método. Durante esse tempo, 
alfabetizei de todas as maneiras possíveis e estudei muito, de tudo. 
Algumas colegas me perguntavam porque eu ainda insistia em ficar no 
ensino fundamental se eu sabia tanta coisa. Mas eu sempre respondi que 
não sabia tanto assim. Sabia o suficiente para ajudar os meus alunos a 
avançarem. Mas estudar tem um risco. O risco de você passar a não mais 
concordar com as coisas prontas, de não querer mais fazer o mesmo 
sempre, de ter vontade de experimentar. E foi o que eu fiz. 
Experimentei. Criei, analisei, reavaliei meu trabalho, me refiz. Hoje, 
mais de duas décadas depois da minha primeira experiência 
alfabetizadora, não estou mais em sala de aula atuando com crianças, mas
 ajudando outras professoras a melhorarem sua prática. Minha avó, que 
estudou apenas até a terceira série primária, se orgulha em dizer que 
alfabetizou seus filhos, porque naquela época se entrava na escola com 7
 anos e se ia para a primeira série (nosso atual segundo ano), já 
sabendo ler e escrever. Mas se isso acontecia com todos, quem 
alfabetizava essas crianças? Todos conseguiam aprender? E por que 
atualmente isso é tão difícil? Por que há alfabetizadores e demais 
professores sem saber o que fazer com os alunos que não conseguem 
avançar?
Atualmente vemos professores desesperados por tudo. Pela 
indisciplina, pela falta de respeito, por conta da agitação das turmas, 
das notas baixas, da falta de atenção. Estressados pelo fato de alguns 
alunos simplesmente não conseguirem aprender. E alguns professores 
simplesmente não conseguem ensinar.
Não conseguem por que lhes falta 
formação. Muitas vezes não lhes falta formação acadêmica. São pedagogos,
 conhecem Piaget, Vygotsky, Ferreiro e outros autores consagrados da 
educação. Teoria sabem muito, mas não conhecem como funciona o cérebro. 
O
 conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, ou seja, como este age 
em relação a aprendizagem é muito importante para tornar mais produtivo o
 ato de aprender.
Situações como indisciplina, agressividade e 
desatenção irritam os professores e prejudicam sua performance em sala 
de aula. Para que isso não aconteça, os professores precisam entender a 
importância da educação emocional e da promoção da saúde mental nas 
escolas.
A neurociência, antes relegada apenas à área da saúde, chega
 a sala de aula para ajudar os educadores a melhorarem seu cotidiano.
Estudos
 neurocientíficos permitem que os professores aprendam como o cérebro 
funciona, como é provocada a empatia e como o controle dos impulsos 
impacta no aprendizado. 
Para que a relação ensino / aprendizagem 
funcione, o professor deve estar atento à estrutura cognitiva e 
emocional do aluno. Precisa manter um bom relacionamento com ele, senão a
 aprendizagem não acontece.
As aulas devem ser motivadoras, 
desafiadoras, indo além do livro didático. Não há, nos dias de hoje, 
como lançar um conteúdo apenas através de uma conversa informal. Dar uma
 aula de ciências só mostrando figuras de um livro didático, ensinar 
física e matemática decorando fórmulas e a tabuada, aprender português 
sem escrever e lendo muito pouco, entender história sem trabalhar o 
conceito de tempo. Nossos alunos merecem mais. E a escola está 
oferecendo muito pouco. 
Diversos professores não conseguem perceber 
que seu aluno não aprende porque necessita de uma aula mais motivadora, 
mais interessante. Que ele quer uma abordagem diferente sobre o tema 
para que consiga entender. Muitos ainda se comportam como professores do
 século retrasado, tempo em que estes eram considerados os donos do 
saber e os alunos, meros depositários dos conhecimentos dos docentes.
Lógico
 que, algumas vezes, o problema não está na aula, nem no trabalho do 
professor, mas este precisa ter conhecimento e sensibilidade suficientes
 para encaminhar o aluno ao especialista mais adequado.
As aulas 
precisam ser mais atraentes, professores precisam potencializar a 
inteligência de seus alunos. E isso é fácil!! Jogos, dramatizações, 
desafios, são atratividade simples que ajudam a estabelecer entre 
educandos e educadores e numa relação de mais confiança e afetividade. 
Não é o aluno que deve se adaptar à maneira como o professor ensina. É o
 professor que deve ter sensibilidade para encontrar o estilo de 
aprendizagem de cada um e abordar a mesma informação de maneiras 
diferentes.
Porém, isso dá trabalho.... E o professor está cansado, desmotivado, endividado... Desvalorizado...
O
 professor, de modo geral, não tem dinheiro pra se dedicar a um único 
emprego, pra se qualificar, fazer cursos, estudar. Não tem tempo pra 
ler, pra escrever. Dá aulas, corrige trabalhos, elabora provas, mas se 
capacita muito pouco. Há aqueles que ainda lutam, que buscam coisas 
novas, mas não são a maioria. E isso é muito triste... Não conseguiremos
 a valorização dessa profissão tão importante enquanto houver 
professores que se sujeitem a receber por seu trabalho, menos do que o 
piso da categoria, que não se importem de não ter a carteira assinada, 
que não se qualificam, que não leem, que continuam escrevendo tão mal, 
com erros tão gritantes que afrontam a língua portuguesa.
Só seremos 
um país sério, com professores valorizados e bem remunerados quando, 
mesmo com dificuldade, esse profissional buscar a qualificação e só 
aceitar empregos em locais sérios, nos quais seus esforços serão 
valorizados. Quando o professor conseguir trabalhar de forma 
interessante para os alunos, tanto o conteúdo a ser estudado, quanto os 
aspectos emocionais que facilitam a aprendizagem, aí sim, poderemos 
pensar que algo vai mudar.  
E a minha avó? Como conseguiu, se 
naquela época neurociência era um tema completamente desconhecido? Os 
antigos tinham sensibilidade... Ela conhecia seus filhos, eles brincavam
 e se desenvolviam naturalmente, o amor, a relação existente entre eles e
 a disponibilidade foram fatores essenciais. Mas isso já é uma outra 
história....
 

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